M.Takara – reminiscências
Lançamento
2019
2016
“Escrever sobre música é um negócio estranho. É como um menino de sunga na praia. Esse moleque dá socos numa onda. Pra quem o vê (e lê), o soco na onda (e o texto) é (é) um espetáculo meio bocó, engraçadinho, curioso / Vazio / Tanto o garotinho quanto o crítico realizam o inútil. Sobre isso, um texto de 1810. E.T.A. Hoffmann, autor d’O Quebra-Nozes. Ele diz lá que a música é incapaz de viver fora dela mesma / Ou melhor: ela comunica um universo que as palavras não comunicam / Ou pior: ela é um mecanismo que não pertence ao verbo / Cada vez que uma composição é explicada (e músicos possuem uma alergia infinita a explicá-la), ela deixa de ser o que é / Somos egoístas. Você e eu acreditamos que toda canção é feita a nosso serviço. Música e letra ressoam somente aquilo que levamos no estômago – o amor que não deu certo, a paisagem na janela, a vontade de suar. Uma concordância infinita na discordância. Ela é sempre sobre nós / E assim que, ao falar de música, você e eu, ele e ela, a diluímos / Uma gota de vinagre na água e a água não é mais água / Aqui o vinagre: Curado, oito músicas, duas vinhetas, 46 minutos, 2016, o sétimo álbum do Hurtmold. É o melhor trabalho do sexteto paulistano desde Mestro (2004). E o mais definidor desde Cozido (2002) / Curado e Cozido, a propósito // Pra além da óbvia conexão culinária dos títulos, são discos que conversam sobre a passagem do tempo. No exemplo mais evidente, os álbuns repetem a faixa Bulawayo. Em 2002, a banda a gravou com as certezas da juventude: a música era afirmativa, alta, bruta / Em Curado, 14 anos depois, o sexteto envelhece com a sabedoria de quem perde os cabelos e certezas. Aqui, Bulawayo é menos repetitiva. A introdução, criada por Paulo Santos, ex-Uakti, grita as coisas entre os silêncios. Diz seja lá o que tiver de dizer com pouco / Ao permitir a comparação entre a Bulawayo de lá e da Bulawayo daqui, o Hurtmold desafia o espelho // Paulo Santos é a presença essencial do disco. Com sons que tira de tubos de PVC, arcos metálicos, espumas, ele torna cada faixa um exercício inesperado. Este é um disco do Hurtmold. Mas é um disco do Hurtmold curado pelo mineiro / Para a banda, sua convocação é uma ferramenta de ruptura (como o cornetista norte-americano Rob Mazurek, em trabalhos passados, foi outra) / Em Mils Crianças (2012), um disco de esgotamento, o molde perdia elasticidade, aceitando mais das mesmas coisas. Curado cutuca esses limites / Este é um disco desafiador de rock. Portanto, atiçará as confusões de sempre. E são engraçadas, essas confusões. Note como: (1) muita gente costuma pregar definições fajutas ao grupo. Há quem ouça jazz ali. Mas jazz não há. E (2) tem também quem aponte uma excelência em improvisos – embora o sexteto seja uma das bandas que menos improvisem entre as bandas que parecem improvisar / O que interessa, ao cabo: estar diante de artistas que confundem, que fazem a gente errar, que sinalizam coisas amplas e puramente não-verbais. Música, enfim // Música é a suprema distração. Arte que prescinde de palavras. O verbo, ao contrário, é o fracasso da música. Um fracasso irresistível, mas um fracasso. Porque se escrever sobre uma melodia é o negócio estranho lá do alto da página, fazê-lo aqui embaixo é como iluminar uma sombra / No momento em que a luz e a palavra a tocam, ela some / Ela é outra coisa / Ridendo dicere severum / Curado, como piada de Cozido, diz”.
Fonte: hominiscanidae.org

2019

2016

2014

2014
O Hurtmold nasceu em 1998, em São Paulo, após o fim do grupo Pudding Lane. Os recém sem-banda Guilherme Granado, Fernando Cappi e Marcos Gerez começaram então a tocar com os amigos Maurício Takara e Mário Cappi, inicialmente por diversão. Pouco tempo depois a banda já estava estabelecida e possuía duas fitas cassetes de boa circulação pelos círculos alternativos tupiniquins: “Everyday Recording” (demo de 1998) e “[Hurtmold]3am: A Fonte Secou…”, lançada pela Spicy Gravações Elétricas em 1999.
Em dezembro de 2000, o grupo lançou pelo selo mineiro Submarine Records o debut Et Cetera. Trata-se de um disco com influências primárias de Sonic Youth e Fugazi, misturadas com referências ao então recente post-rock, mas sem posicionar a banda definitivamente em nenhum ramo, nem sequer a língua na qual seriam cantadas as músicas (Guilherme canta alternando entre o português e o inglês).
Essas indefinições começam a ser aniquiladas com o lançamento de Cozido, em maio de 2002, novamente pela Submarine Records. São poucas as canções com vocais (todas em português), enquanto sobram viagens instrumentais que tendem mais para a meticulosidade de um Tortoise do que para a emoção explícita de um Mogwai. Pode-se dizer que nasceu neste segundo disco a identidade do Hurtmold, que daqui por diante não lançaria nada que não fosse resultado de evolução e esforço em não se adequar unicamente a um estilo facilmente identificável.
Neste ponto a banda já possuía uma boa base de fãs (considerando-se que estamos falando de Brasil) e era reconhecida principalmente por seus shows, onde a precisão e o talento de seus membros eram ainda mais evidentes. Ainda em 2002 a banda voltou ao estúdio paulista El Rocha (onde havia gravado seus dois registros anteriores) para preparar as músicas de seu próximo trabalho.
Em julho de 2003 foi lançado o split com o The Eternals, grupo de Chicago que faz parte do cast da DeSoto Records. Neste split, onde cada grupo apresenta cinco músicas, o Hurtmold demonstra mais maturidade e objetividade. A banda agrega mais instrumentos em sua música sem soar pedante ou sem direcionamento, gerando um definitivo patamar de igualdade e importância entre seus membros e chutando para longe quaisquer resquícios de convencionalidade que poderiam restar da época de seus cassetes influenciados por Hüsker Dü, e mesmo de seu primeiro álbum, de três anos antes. Mas enquanto o Eternals experimenta sem limites, a maior coesão do Hurtmold resulta em um ecleticismo consistente e suave, marcado pelo entrosamento e bom uso da criatividade de seus integrantes, que suscitam até paralelos com a musicalidade do jazz. Mesmo trazendo poucas músicas, é o melhor trabalho do Hurtmold até aqui. Para a divulgação do trabalho, uma mini-turnê com o Eternals passou por São Paulo, Campinas e Belo Horizonte.
Ainda em 2003 foi lançado o primeiro disco solo de Maurício Takara, intitulado M. Takara, disponível também pela Submarine Records. O álbum possui faixas gravadas pelo baterista entre 2000 e 2003. Seu parceiro de Hurtmold, Marcos Gerez, contribui no baixo de duas músicas. Essa é, por sinal, outra características dos membros do Hurtmold, a participação em projetos paralelos: Takara toca também no Instituto, além de colaborar com artistas de outras praias como Otto e o rapper Xis. Guilherme toca também no Againe e, junto com Marcos Gerez, no Van Damien. Mário Cappi participa do Polara.
A banda voltaria alguns meses após o lançamento de “Hurtmold/The Eternals” ao estúdio El Rocha para preparar seu próximo trabalho. Um novo membro foi adicionado à formação do grupo: o percussionista e clarinetista Rogério Martins, que veio para aumentar o arsenal de possibilidades da já rica sonoridade da banda. A expectativa dos fãs foi enorme. Mestro foi lançado em julho de 2004 pela Submarine, com ares de disco definitivo do Hurtmold.
Em 2007, sai o 5° disco dos caras intitulado com o mesmo nome da banda, Hurtmold, que saiu depois de um longo jejum.
A banda é conhecida por fazer um post-rock mais vigoroso que o convencional, utilizando bastante instrumentos de percussão, com influências diversas que vão do jazz, passando por minimalismo, punk rock até chegar a ritmos regionais da música brasileira. Outra característica do Hurtmold é o fato dos seus integrantes trocarem os instrumentos entre si durante as apresentações ao vivo.
Discografia:
ET cetera – 2000
Cozido – 2002
Hurtmold / The Eternals – 2003
Mestro – 2004
Hurtmold – 2007





Lançamento
2018

Lançamento
2023

Lançamento
2020

Lançamento
2023

Lançamento
1975

Lançamento
2015

Lançamento
2022

Lançamento
2023

Lançamento
2022

Lançamento
2021

Lançamento
2013

Lançamento
1974

Lançamento
2019

Lançamento
2021


Lançamento
2025







