Hurtmold e Paulo Santos – Curado

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“Escrever sobre mĂșsica Ă© um negĂłcio estranho. É como um menino de sunga na praia. Esse moleque dĂĄ socos numa onda. Pra quem o vĂȘ (e lĂȘ), o soco na onda (e o texto) Ă© (Ă©) um espetĂĄculo meio bocĂł, engraçadinho, curioso / Vazio / Tanto o garotinho quanto o crĂ­tico realizam o inĂștil. Sobre isso, um texto de 1810. E.T.A. Hoffmann, autor d’O Quebra-Nozes. Ele diz lĂĄ que a mĂșsica Ă© incapaz de viver fora dela mesma / Ou melhor: ela comunica um universo que as palavras nĂŁo comunicam / Ou pior: ela Ă© um mecanismo que nĂŁo pertence ao verbo / Cada vez que uma composição Ă© explicada (e mĂșsicos possuem uma alergia infinita a explicĂĄ-la), ela deixa de ser o que Ă© / Somos egoĂ­stas. VocĂȘ e eu acreditamos que toda canção Ă© feita a nosso serviço. MĂșsica e letra ressoam somente aquilo que levamos no estĂŽmago – o amor que nĂŁo deu certo, a paisagem na janela, a vontade de suar. Uma concordĂąncia infinita na discordĂąncia. Ela Ă© sempre sobre nĂłs / E assim que, ao falar de mĂșsica, vocĂȘ e eu, ele e ela, a diluĂ­mos / Uma gota de vinagre na ĂĄgua e a ĂĄgua nĂŁo Ă© mais ĂĄgua / Aqui o vinagre: Curado, oito mĂșsicas, duas vinhetas, 46 minutos, 2016, o sĂ©timo ĂĄlbum do Hurtmold. É o melhor trabalho do sexteto paulistano desde Mestro (2004). E o mais definidor desde Cozido (2002) / Curado e Cozido, a propĂłsito // Pra alĂ©m da Ăłbvia conexĂŁo culinĂĄria dos tĂ­tulos, sĂŁo discos que conversam sobre a passagem do tempo. No exemplo mais evidente, os ĂĄlbuns repetem a faixa Bulawayo. Em 2002, a banda a gravou com as certezas da juventude: a mĂșsica era afirmativa, alta, bruta / Em Curado, 14 anos depois, o sexteto envelhece com a sabedoria de quem perde os cabelos e certezas. Aqui, Bulawayo Ă© menos repetitiva. A introdução, criada por Paulo Santos, ex-Uakti, grita as coisas entre os silĂȘncios. Diz seja lĂĄ o que tiver de dizer com pouco / Ao permitir a comparação entre a Bulawayo de lĂĄ e da Bulawayo daqui, o Hurtmold desafia o espelho // Paulo Santos Ă© a presença essencial do disco. Com sons que tira de tubos de PVC, arcos metĂĄlicos, espumas, ele torna cada faixa um exercĂ­cio inesperado. Este Ă© um disco do Hurtmold. Mas Ă© um disco do Hurtmold curado pelo mineiro / Para a banda, sua convocação Ă© uma ferramenta de ruptura (como o cornetista norte-americano Rob Mazurek, em trabalhos passados, foi outra) / Em Mils Crianças (2012), um disco de esgotamento, o molde perdia elasticidade, aceitando mais das mesmas coisas. Curado cutuca esses limites / Este Ă© um disco desafiador de rock. Portanto, atiçarĂĄ as confusĂ”es de sempre. E sĂŁo engraçadas, essas confusĂ”es. Note como: (1) muita gente costuma pregar definiçÔes fajutas ao grupo. HĂĄ quem ouça jazz ali. Mas jazz nĂŁo hĂĄ. E (2) tem tambĂ©m quem aponte uma excelĂȘncia em improvisos – embora o sexteto seja uma das bandas que menos improvisem entre as bandas que parecem improvisar / O que interessa, ao cabo: estar diante de artistas que confundem, que fazem a gente errar, que sinalizam coisas amplas e puramente nĂŁo-verbais. MĂșsica, enfim // MĂșsica Ă© a suprema distração. Arte que prescinde de palavras. O verbo, ao contrĂĄrio, Ă© o fracasso da mĂșsica. Um fracasso irresistĂ­vel, mas um fracasso. Porque se escrever sobre uma melodia Ă© o negĂłcio estranho lĂĄ do alto da pĂĄgina, fazĂȘ-lo aqui embaixo Ă© como iluminar uma sombra / No momento em que a luz e a palavra a tocam, ela some / Ela Ă© outra coisa / Ridendo dicere severum / Curado, como piada de Cozido, diz”.          

Fonte: hominiscanidae.org

O Hurtmold nasceu em 1998, em SĂŁo Paulo, apĂłs o fim do grupo Pudding Lane. Os recĂ©m sem-banda Guilherme Granado, Fernando Cappi e Marcos Gerez começaram entĂŁo a tocar com os amigos MaurĂ­cio Takara e MĂĄrio Cappi, inicialmente por diversĂŁo. Pouco tempo depois a banda jĂĄ estava estabelecida e possuĂ­a duas fitas cassetes de boa circulação pelos cĂ­rculos alternativos tupiniquins: “Everyday Recording” (demo de 1998) e “[Hurtmold]3am: A Fonte Secou…”, lançada pela Spicy GravaçÔes ElĂ©tricas em 1999.

Em dezembro de 2000, o grupo lançou pelo selo mineiro Submarine Records o debut Et Cetera. Trata-se de um disco com influĂȘncias primĂĄrias de Sonic Youth e Fugazi, misturadas com referĂȘncias ao entĂŁo recente post-rock, mas sem posicionar a banda definitivamente em nenhum ramo, nem sequer a lĂ­ngua na qual seriam cantadas as mĂșsicas (Guilherme canta alternando entre o portuguĂȘs e o inglĂȘs).

Essas indefiniçÔes começam a ser aniquiladas com o lançamento de Cozido, em maio de 2002, novamente pela Submarine Records. SĂŁo poucas as cançÔes com vocais (todas em portuguĂȘs), enquanto sobram viagens instrumentais que tendem mais para a meticulosidade de um Tortoise do que para a emoção explĂ­cita de um Mogwai. Pode-se dizer que nasceu neste segundo disco a identidade do Hurtmold, que daqui por diante nĂŁo lançaria nada que nĂŁo fosse resultado de evolução e esforço em nĂŁo se adequar unicamente a um estilo facilmente identificĂĄvel.

Neste ponto a banda jĂĄ possuĂ­a uma boa base de fĂŁs (considerando-se que estamos falando de Brasil) e era reconhecida principalmente por seus shows, onde a precisĂŁo e o talento de seus membros eram ainda mais evidentes. Ainda em 2002 a banda voltou ao estĂșdio paulista El Rocha (onde havia gravado seus dois registros anteriores) para preparar as mĂșsicas de seu prĂłximo trabalho.

Em julho de 2003 foi lançado o split com o The Eternals, grupo de Chicago que faz parte do cast da DeSoto Records. Neste split, onde cada grupo apresenta cinco mĂșsicas, o Hurtmold demonstra mais maturidade e objetividade. A banda agrega mais instrumentos em sua mĂșsica sem soar pedante ou sem direcionamento, gerando um definitivo patamar de igualdade e importĂąncia entre seus membros e chutando para longe quaisquer resquĂ­cios de convencionalidade que poderiam restar da Ă©poca de seus cassetes influenciados por HĂŒsker DĂŒ, e mesmo de seu primeiro ĂĄlbum, de trĂȘs anos antes. Mas enquanto o Eternals experimenta sem limites, a maior coesĂŁo do Hurtmold resulta em um ecleticismo consistente e suave, marcado pelo entrosamento e bom uso da criatividade de seus integrantes, que suscitam atĂ© paralelos com a musicalidade do jazz. Mesmo trazendo poucas mĂșsicas, Ă© o melhor trabalho do Hurtmold atĂ© aqui. Para a divulgação do trabalho, uma mini-turnĂȘ com o Eternals passou por SĂŁo Paulo, Campinas e Belo Horizonte.

Ainda em 2003 foi lançado o primeiro disco solo de MaurĂ­cio Takara, intitulado M. Takara, disponĂ­vel tambĂ©m pela Submarine Records. O ĂĄlbum possui faixas gravadas pelo baterista entre 2000 e 2003. Seu parceiro de Hurtmold, Marcos Gerez, contribui no baixo de duas mĂșsicas. Essa Ă©, por sinal, outra caracterĂ­sticas dos membros do Hurtmold, a participação em projetos paralelos: Takara toca tambĂ©m no Instituto, alĂ©m de colaborar com artistas de outras praias como Otto e o rapper Xis. Guilherme toca tambĂ©m no Againe e, junto com Marcos Gerez, no Van Damien. MĂĄrio Cappi participa do Polara.

A banda voltaria alguns meses apĂłs o lançamento de “Hurtmold/The Eternals” ao estĂșdio El Rocha para preparar seu prĂłximo trabalho. Um novo membro foi adicionado Ă  formação do grupo: o percussionista e clarinetista RogĂ©rio Martins, que veio para aumentar o arsenal de possibilidades da jĂĄ rica sonoridade da banda. A expectativa dos fĂŁs foi enorme. Mestro foi lançado em julho de 2004 pela Submarine, com ares de disco definitivo do Hurtmold.

Em 2007, sai o 5° disco dos caras intitulado com o mesmo nome da banda, Hurtmold, que saiu depois de um longo jejum.

A banda Ă© conhecida por fazer um post-rock mais vigoroso que o convencional, utilizando bastante instrumentos de percussĂŁo, com influĂȘncias diversas que vĂŁo do jazz, passando por minimalismo, punk rock atĂ© chegar a ritmos regionais da mĂșsica brasileira. Outra caracterĂ­stica do Hurtmold Ă© o fato dos seus integrantes trocarem os instrumentos entre si durante as apresentaçÔes ao vivo.

Discografia:
ET cetera – 2000
Cozido – 2002
Hurtmold / The Eternals – 2003
Mestro – 2004
Hurtmold – 2007

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