2020
Há quem diga que a arte é fuga. Que o mundo criado pelo artista é uma possibilidade de despressurizar as intensas forças da realidade concreta, em direção a um refúgio de leis próprias no qual o exercício de controle traz alívio e sensação de segurança. Para o paulistano Lucas Rechtman, a arte não poderia estar mais longe desta definição. Nascido em Tiradentes, extrema Zona Leste de São Paulo, e criado no Bom Retiro, o multi-instrumentista e produtor tem experienciado sua ânsia artística por meio de diferentes projetos. Foi baixista da banda Luzia entre 2016 e 2017 e enveredou por caminhos internacionais em uma residência artística em Seattle e na Califórnia, onde organizou eventos que mesclavam gastronomia e música, promovendo intercâmbio entre as culturas brasileira e americana. Assim, contrária àquela primeira definição, a arte do jovem paulistano nunca pareceu se refugiar, mas, sim, lançar-se ao mundo – reunir suas experiências e se deixar vulnerável perante o mundo. E é justamente desta vulnerabilidade, deste desejo de se colocar no mundo que Flutuar, seu primeiro disco autoral, nasce. Para isso, Lucas veste a persona de Bossa Noise, um nome que deixa clara em sua construção a existência de contradições essenciais para a composição deste disco. A “bossa” vem no sentido mais faceiro, do sentimento mais suave que permeia o termo e com direito a algum intertexto do gênero durante as composições, ressignificadas sob uma roupagem Lo-fi. O Noise, por sua vez, não vem de uma maneira explícita na sonoridade, mas como reflexo daquilo que Lucas, por meio de sua música, digere. Ao escolher usar sua arte como enfrentamento, todo o barulho de fora é internalizado, ao invés de posto de lado. O “noise” se encontra nas minúcias de Flutuar pois, apesar de um disco que explora tons mais brandos, ele é produto de muita reflexão sobre o caos… Continue lendo no Monkey Buzz
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