2020
Quando maratonamos uma série, instauramos outra temporalidade. Assistimos meia dúzia de episódios em modo contínuo, no fluxo. As horas avançam e em certos momentos até percebemos isso — quando o sol se vai e somos levados a acender a luz, por exemplo —, mas ao final da maratona não nos sentimos cansados. “Nem senti o tempo passar”, descobrimos, com certa felicidade. A cineasta Chantal Akerman orientava-se pelo princípio oposto. “Eu quero que as pessoas sintam o tempo passar”, dizia ela. A sensação de claustrofobia e a névoa de estresse opressivo que pairam durante as 3 horas e 45 minutos do filme Jeanne Dielman (1975), por exemplo, parecem durar e nos cansar muito mais do que quatro horas de episódios de uma série da Netflix precisamente para nos fazer sentir o peso do tempo. Queda, o terceiro álbum da banda pernambucana Rua, materializa o peso do tempo em um contexto de crítica à modernidade. O tempo se arrasta lenta e pesadamente, como uma expressão psicológica da catástrofe promovida pela modernidade e seu extermínio sistemático de outras possibilidades de vida. Há anos ouvimos falar sobre o aquecimento global, vemos reportagens na televisão sobre a elevação do nível dos oceanos e o extermínio de povos indígenas e da população negra. Ainda assim, todos são apresentados como problemas abstratos, quase como uma condição hipotética a se confirmar ou não como ameaça em um futuro distante — e não fossem emergências do agora. Como observou Mark Fisher, as catástrofes sócio-ambientais e psicológicas provocadas pelo neoliberalismo não são nem iminentes e tampouco já aconteceram. Ao invés disso, estão sendo vividas. Nas músicas de Queda, a experiência agonizante do tempo é o retrato desse acontecimento presente… Leia a entrevista no Volume Morto
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