Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Lançamento
2017
2015
2015
Kiko Dinucci
Ná Ozzetti
Passo Torto
Rodrigo Campos
Romulo Fróes
Passo Torto e Ná Ozzetti é cinema. É música e palavra em curto-circuito, desencadeando a imaginação do ouvinte: imagem e ação, imagem em movimento… é cinema, na sua sugestão de ambientes e espaços, planos e enquadramentos, de climas e texturas quase palpáveis… aquele cinema do cinema novo, da nouvelle vague e do cinema marginal… por vezes aquele ar de um radical desenho animado para adultos ou de uma antiga e agridoce comédia italiana… é também um cinema de guerrilha, feito com enorme economia de recursos e abundância de ideias… música pode ser tudo isto. Passo Torto e Ná Ozzetti é canção. Mas não exatamente a canção do samba-canção, a canção com refrão, a canção de amor e dor-de-cotovelo… canções que contam pequenas estórias, mas estórias sem grandes heróis nem moral da estória… estórias nem sempre lineares, estórias tortas cantadas em poesia, mas conduzidas também pela montagem inusitada dos arranjos, pelos cortes bruscos e secos, pelo contraste entre timbres saturados e cristalinos, pela alternância entre a estática do ruído e do quase-silêncio e a vertigem das intricadas texturas polifônicas… tudo isto pode ser canção. Mas, não… não é só isso… Passo Torto e Ná Ozzetti fazem cinema-canção… sim, cinema-canção. É um cinema-canção com locações em São Paulo. Mas não estamos propriamente na São Paulo dos personagens de Adoniran e de Vanzolini… não uma São Paulo explícita nos nomes de ruas e bairros… mas uma São Paulo arrancada do juízo de cada uma das cinco cabeças que se encontram nesse disco… é a São Paulo da urgência e da densidade, do sexo e da falta de sexo, da morte e do carnaval… mas é, antes de tudo, a São Paulo transfigurada em um estado mental. Passo Torto e Ná Ozzetti é vanguarda mas também é tradição. Passo Torto sempre soou como banda coesa e não como um mero aglomerado de trabalhos individuais, e a presença-parceria de Ná Ozzetti felizmente se dá com grande naturalidade… é raro uma artista se manter na vanguarda durante toda sua vida (afinal a vanguarda é o pelotão de frente de um exército, reservado aos mais jovens, ainda enérgicos e entusiasmados), e também são raros os encontros entre duas gerações de artistas que resultem em frutos tão maduros e homogêneos… pois aqui Ná Ozzetti alcança essas duas virtudes com muita leveza… e assim presenciamos algo digno de nota: a vanguarda nascendo de novo e se transformando em tradição que alimentará futuras vanguardas e outras tantas tradições. E por que “Thiago França”? como diriam aqueles ilustres baianos-paulistanos, Tom Zé e Vicente Barreto (vanguardistas à sua maneira e tão atentos à música dos mais jovens quanto a própria Ná): “Hein?” “Thiago França” é o Passo Torto e Ná Ozzetti mantendo a tradição de confundir para esclarecer…
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