Jonnata Doll e Os Garotos Solventes – alienígena

Imagine que você está em frente a um portão de metal que dá acesso a um corredor estreito e escuro. Você resolve seguir pelo corredor. Ninguém escuta seus passos quando você entra porque a primeira porta que surge à esquerda dá acesso a um quarto onde uma música dançante, algo que parece um pós-punk, está tocando no último volume. Dentro do quarto há uma cama de casal cuja cabeceira está ocupado por um televisor, um vídeo-cassete, um DVD player e um aparelho de som modulado que toca vinil, todos velhos e mal conservados. Deitados na cama um cara magro e sem camisa olha para o teto como se estivesse acabado de gozar e ao seu lado uma garota linda fuma um cigarro. Você se sente muito atraído por ela, é quase como amor à primeira vista, mas, ao mesmo tempo, sente que há algo de terrivelmente errado com ela. As paredes do quarto têm a tinta cinza descascada entre os muitos pôsteres coloridos pregados por todos os lados. Um olhar mais atento aos pôsteres irá revelar shows de uma banda organizados em lugares inusitados como puteiros, cinemas pornôs e hospitais psiquiátricos. Cartazes de shows e festivais nacionais sempre com a mesma banda, dividem espaço com pôsteres de bandas como Ramones, Iggy Pop, Pink Floyd, Lou Reed, David Bowie, Wander Wildner, entre outras, além de cartazes de filmes de terror. Você acha que esta interrompendo o casal apesar de aparentemente eles nem te notarem. Voltando ao corredor você continua até a próxima porta e ao entrar descobre uma cozinha aonde há muito tempo só se faz comida para alma. Cinco pessoas estão ao redor de um balcão coberto de cinzas e fuligem que empesta todo o ambiente, todos estão falando e fumando ao mesmo tempo, um papo frenético e afetaminado. Sentado numa cadeira ao lado da porta, um cara branco com nariz de judeu aperta os olhos e escreve compulsivamente numa agenda. Ele de vez em quando pergunta como se escreve uma ou outra palavra. Um cheiro de cânfora inexplicável faz você se sentir enjoado, por isso você volta ao corredor que termina num quintal amplo, escuro e ventilado. No alto as estrelas brilham e no cantinho, ao pé do muro, quatro silhuetas conversam algo em tom cerimonial. De repente um deles atende o celular e você o escuta dizer: “- Ok, um show para Jonnata Doll e os Garotos Solventes”