2016
Os seres humanos são entes eletromagnéticos: emitem e recebem frequências de diversas ordens, que são interpretadas pelos sentidos periféricos para então serem traduzidos nos segmentos superiores da cognição. É fácil perceber tal fato no estabelecimento de uma ressonância, quando sentimentos, como o medo ou a euforia, espalham-se verticalmente entre as pessoas. Foi nesse fenômeno que, por séculos, filósofos e espiritualistas empregaram suas elucubrações na tentativa de explicar a natureza misteriosa da existência, a tão desprezada metafísica, abstrata, impalpável… será? A Terra vive, o universo respira numa espécie de jogo, que é traduzido pelos humanos em seu mundo recheado de simbolismos. E a arte, como gozo desprendido, apresenta-se então como a mais sublime fonte de transmissão para expressar uma determinada energia numa dada localidade de tempo. É nesse contexto que se pode explicar o som do Hesla, projeto que o músico Vinícius Dias concebeu em meados de 2012. Como uma canalização interdimensional, ele deu origem ao EP Magnetita, um viajem experimental deliberadamente sintética por beats quebrados e linhas próximas ao dubtechno, lembrando um pouco os trabalhos de produtores como Monolake. Vinícius começou sua carreira entre 2009 e 2010 com o projeto Roman’s Field, cuja formatação autoral foi a base para a concepção do Sin Ayuda, banda conceituada no cenário independente e que teve seus lançamentos distribuídos pelos selos Popfuzz e Bigorna. Entre 2013 e 2014, ele consolidou um novo projeto, intitulado Diaz, com o single Não É Por Isso, lançado pela Transtorninho records, até o nascimento de Nuances Bizarras Sobre Condições Adversas, ocasião em que amadureceu a ideia de seu próprio selo, chamado Polidoro Discos. A sonoridade dos trabalhos de Vinícius faz clara referência ao psicodélico e experimental de nomes como Syd Barrett, John Cage e Robert Wyatt. Contudo, já nos primeiros minutos de Magnetita, a suspeita na mudança de direção fica evidente. Como se explicaria tamanha variação de fluxo? A metafísica! Entre 2009 e 2012, aproximadamente, o dubtechno figurou como um dos gêneros mais expressivos dentro de um estilo tão desgastado. Detalhe: Vinícius nunca ouvira nada de dubtechno. Com o Hesla, seu objetivo foi construir uma estrutura ragga experimental, que não envolvesse sua habitual guitarra como foco principal. Contudo, a guitarra aparece acalorada em umas das faixas principais do EP, parceria com seu amigo Diego Xavier, parceiro de longa data no Sin Ayuda. Magnetic Love começa batendo firme, até que a inusitada mudança de direção transforma a sessão num passo mais macio, enquanto o delay flutua forte a ecoar entre os canais. Entre o reggae e o dub não se verifica distâncias estelares; antes sim, sua intenção percorreu um universo inteiro para atingir outro a fim de mostrar como a ressonância de ordem metafísica funciona viva nas expressões artísticas humanas…
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