Devotos – O Fim Que Nunca Acaba

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E eis que, em seu aniversário de 30 anos, o Devotos coloca na praça seu mais novo trabalho, O Fim que Nunca Acaba. Intrigante desde o título e da capa, o disco consegue um feito raro para quem está na terceira década de carreira: mantém suas raízes e ao mesmo tempo expande os horizontes da banda. Extremamente bem produzido e tocado com esmero, “O Fim que Nunca Acaba” é recheado de novas possibilidades e pode ser considerado o trabalho mais ousado da banda. O próprio Cannibal explica o enigmático título do álbum: “É pela longevidade de uma banda como a nossa em um Estado com pouca divulgação para o hardcore como Pernambuco. Aqui praticamente não existe espaço para o hardcore nas rádios e TVs locais. São poucos os festivais locais. Os editais também são raros. Acho que qualquer outra banda, no nosso lugar, já teria desistido há muito tempo. E a gente, ao invés de mudar para o Sul ou o Sudeste, onde os espaços de divulgação são maiores, optou por continuar morando aqui. É um verdadeiro trabalho de resistência”.A julgar pelas 15 músicas que compõem o disco, o fim está bem longe. Com produção caprichada do próprio Devotos, mixado e masterizado por Mathias Severien, O Fim que Nunca Acaba mostra uma banda que vai muito além do hardcore que consagrou o trio. O que Cannibal (baixo e voz), Neilton (guitarra) e Celo (bateria) conseguem extrair deste álbum é algo nunca visto na carreira deles. Em “Não Fico”, por exemplo, eles fazem um metal pesadão que ainda não tinha sido ouvido nos trabalhos anteriores. “Não Desista” vem embalada em um clima soturno que dá ênfase até a um violão pesado. “Incrédulo” tem uma linha de baixo forte de Cannibal, que canta com voz limpa e abre espaço para uma base de sopros de Maestro Forró e acaba desancando para, pasmem, um jazz pesado! A música vem num crescente hipnótico, explodindo do meio para o fim. Maestro Forró também conduz a banda para uma espécie de “frevo-jazz-hardcore” em “Chama Padre Quevedo”, uma das mais ousadas do álbum. Mais surpreendente ainda é “Liga da Justiça”, quase acústica, com participação especial de Maciel Salú que, com sua rabeca, leva o som do Devotos até o Oriente Médio. E, surpresa, ainda aparecem mais violões na música, em que Cannibal pergunta: “Você é bandido ou artista?”.”De Andada” tem uma introdução maravilhosa de bateria de Celo, para a banda logo depois entrar numa vibe pesadona, novamente flertando com o metal e com um trabalho deslumbrante de guitarra de Neilton.Duas coisas merecem ser destacadas também: a coesão do discurso de Cannibal, que continua acertando no alvo em suas letras. A temática social permanece forte, o que é uma das marcas registradas da banda. E o excepcional trabalho de guitarra de Neilton, que muitas vezes lembra os solos alucinados de Andreas Kisser, do Sepultura.E, claro, há espaço para a essência do Devotos, como no hardcore “Eu Declaro Meu Inimigo” e “ Matou Morreu”.A capa, como sempre, foi feita por Neilton Carvalho, que já tem seu trabalho como artista plástico reconhecido nacionalmente. Esta, talvez, seja a mais forte que Neilton já produziu, embora, à primeira vista, seu significado esteja nas entrelinhas e nas imagens subliminares que a obra contém. Ela é toda vermelha e traz o desenho de um negro “acorrentado” por um monstro marinho e cujos tentáculos destroem um barquinho de papel em mar de sangue na contracapa. Neilton explica qual foi sua inspiração para o desenho: “Essa capa eu deixei aparentemente leve, fugindo do óbvio do som, do estilo dito, mas tem elementos muito pesados e importantes para a história do povo do subúrbio do mundo inteiro. Com a recente história de migrações forçadas por conta das guerras religiosas, com naufrágios de famílias inteiras, morrendo tentando realizar seu sonho simples de viver em paz e pela paz. Somos todos imigrantes”, revela Neilton.Ele então relata todo o simbolismo da capa. “Quem prestar atenção verá muita coisa que vai incomodar: o negro com um semblante de aceitação de sua condição, o mar de sangue, os monstros que todos temos interna e externamente, que destroem nossos pequenos sonhos, representado por um simples barquinho de papel e significados religiosos mostrando uma proteção ancestral muito marcante, como as folhas da planta “comigo ninguém pode”. Ou seja, um trabalho de significados profundos e com um tema atualíssimo, que talvez seja o maior dilema de nossos tempos: a convivência humana e nossa eterna dificuldade em nos colocar no lugar de nosso semelhante.O normal é que um artista com 30 anos de carreira se acomode, se repita. Com o Devotos é diferente. Com o passar do tempo, a banda mostra uma inquietação estética que o faz navegar por mares jamais experimentados. E o resultado mostra que o trio só ganha com isso. Trata-se de uma banda que cada vez mais consolida uma identidade muito bem definida, ainda que experimentando novas sonoridades.As participações especiais só reforçam esse modelo. Carlão Underground, vocalista do Realidade Encoberta, divide os vocais com Cannibal na urgente “Matou Morreu”. Maestro Forró dimensiona o grau de alcance do Devotos em “Incrédulo” e “Chama Padre Quevedo”. E Maciel Salu viaja com a banda para a Arábia sem tirar os pés do regionalismo em “Liga da Justiça”.”O Fim que Nunca Acaba” prova que o Devotos é capaz de se reinventar sem perder a identidade. Não é o começo do fim. E parece que nunca vai acabar…          

Fonte: hominiscanidae.org

Devotos – Um olhar Hardcore à vida do Recife

A banda Devotos foi formada em 1988 pelo por Cannibal (baixo e voz), o Neilton (guitarra) e o Celo Brown (batereia) sob o nome “Devotos do Ódio” que foi tirado do título de um livro de José Louzeiro (1987) (Teles 2000:244). Louzeiro é o novelista, jornalista e roteirista cujo livro ?Infância dos Mortos? sobre a vida de uma criança que morava na rua, foi levada ao cinema em 1981 no filme aclamado pela crítica “Pixote” de Hector Babenco. O grupo teve e ainda tem sua base no bairro de baixa renda que também tem abundantes problemas sociais e onde muitas pessoas trabalham para melhorar suas condições que se encontra nos morros de Recife, chamado Alto José do Pinho. No ano 2000 o grupo mudou seu nome para “Devotos”.

Quando a MTV começou a se captada no Recife, o sinal podia ser recebido claramente no Alto José de Pinho, os futuros membros dos Devotos já escutavam punk rock e bandas como The Smiths e The Cure junto com o punk rock de São Paulo. Conheciam os gêneros tradicionais que bandas como Chico Science e Nação Zumbi logo incorporariam aos seus sons, mas estavam interessados em tocar um estilo hardcore,rock. (Teles 2000:248).

Os membros de Devotos abraçaram a ética do “faça você mesmo” do punk rock. O guitarrista Neilton explicou-me em 2001 como fabricou ele mesmo seu primeiro amplificador e guitarra o que incluiu o braço e do corpo da guitarra, e como tocou por um longo tempo sem que ninguém percebesse que não tinha sido comprada numa loja de música.

A creatividade de Neilton estende-se à arte da capa dos CD´S da banda e ao desenho do seu web site. A banda fabrica os cases para seus instrumentos e os gabinetes dos seus amplificadores, e compram somente o que não podem fazer eles mesmos. Isso, de todos modos, não se faz com um sentido de carência. Pelo contrario, Neilton diz ?…Eu não sinto angustia por isso. Me dá prazer e orgulho tê-lo feito e ter minha arte à vista, ver meu trabalho concretizado, a idéia realizada. Neilton foi capaz de comprar guitarras Fender e Gibson Les Paul e amplificadores Marshall uma vez que a banda se tornou conhecida mas ele ainda sentia a necessidade de brincar com as percepções das pessoas sobre as marcas. E comprou uma guitarra elétrica barata e removeu tudo incluindo os trastes reformá-la para o seu próprio estilo chamando-a com o nome de “Robson” e começou a usá-la nos seus shows. Logo as pessoas estavam admirando seu som e perguntando onde podiam comprar uma.

Entre os obstáculos que a banda enfrentou nos seus primeiros anos se encontravam a polícia, a repressão e a não aprovação dos moradores do seu bairro pela eleição do seu estilo musical. O bairro Alto José do Pinho era o lar de “caboclinhos” e “grupos de maracatu” que eram importantes no carnaval. A imagem mediática das bandas de rock remetia à juventude de classe media. Quando os Devotos começaram a ter cobertura da imprensa isto se deveu em parte à desconexa percepção de ver um

grupo de jovens de classe baixa fazendo hardcore-punkrock (Teles 2000:251).

Com o tempo a relação da banda com a comunidade melhorou, já que demonstrou seu compromisso com a mesma atraindo abundante atenção da imprensa para muitas outras bandas de ali e ao impulsionar a fundação de uma Organização Não Governamental (ONG) chamada Alto Falante (um jogo de palavras, sendo “Alto” seu bairro no Recife), a que realiza projetos culturais e sociais.

A banda tem realizado seis CD´s: “Agora tá Valendo” (BMG 1997), “Devotos” (Rockit!, 2000), “Hora da Batalha” (Independente, 2003), “Sobras da Batalha” (Independente, 2004- unicamente para downlod), “Flores Com Espinhos Para o Rei” (Independente, 2006) e “Devotos 20 anos” (Independente, 2009 – comemorativo dos 20 anos da banda).

Para voltar ao tema da identidade nacional brasileira que se encontra em canções como “Aquarela do Brasil” de Ari Barroso, há que escutar “Meu País” de Devotos como um exemplo do seu trabalho como banda. É muito menos intensa que muitas outras canções da banda nas quais usam um estilo de alta intensidade hardcore ainda que continuem sendo muito melódicas, “Alien” de “Devotos” (Rockit!, 2000) é um bom exemplo disso.

Discografia
* Agora tá Valendo (1997)
* Devotos (2000)
* Hora da Batalha (2003)
* Sobras da Batalha EP (2004)
* Flores com Espinhos Para o Rei (2006)
* Devotos 20 anos – ao vivo (2009)

Para ouvir melhor...

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